Por maiores que sejam as distâncias, quando duas almas se encontram, rompem-se as fronteiras, cessam-se os abismos. Se ao chegar a este reino, me foram negadas asas, foi me legado a imaginação. A qualquer momento do dia, ou até mesmo na noite mais solitária, em questão de milésimos de segundo, posso chegar até você. Posso sentir seu cheiro, a textura da sua pele, sem ao menos saber se você existe, sem ao menos saber se tu és meu anjo ou meu demônio, minha lucidez ou minha perdição.
Tu roubaste minha paz querida, e por isso lhe sou eternamente grato. Toda paz é uma maquiagem do conformismo, da letargia, uma falsa comunhão. Usurpaste meu sono, e por isso lhe santifico, por que melhor mesmo é sonhar acordado. Faz-me sentir a todo instante a dor de tua ausência, e não é verdade mesmo que só a dor é que me faz sentir vivo. Não é que o dia está mais belo, e nem os pássaros que cantam.
Mas eu sou obrigado a te advertir mulher, cuidado com o que desejas, pois o calor de dois corpos juntos em ardência é capaz de derreter um coração de gelo. Toma cuidado por onde pisa, o caminho do (des)encontro é cheio de armadilhas e ilusões, mas saiba que, lá ao final estarei eu a te esperar. Saiba que depois de tanto suor e dor, poderás repousar no conforto do meu colo, na segurança dos meus braços.
Talvez de nada valha tanto esforço, tanta ousadia e sagacidade, para no final perceber que nessa luta que é o sentir, o desfecho é sempre o mesmo, a mortificação do eu, o perde-se em si próprio pra nunca mais se achar. É sair ferido, cheio de cicatrizes. Mas o que mais vale mesmo é o viver pelo viver, é olhar pra cada marca em seu corpo, pra cada fotografia, é retomar cada lembrança, e ter certeza que eu vosso corpo habita uma alma.
Um pouco de lirismo de qualidade abaixo:
"O silêncio não leva a Deus
a noite não me transporta para o alto
e o ocaso é um convite à solidão
Na angústia dos momentos perdidos
o desespero dos minutos sem destino
e a implacável certeza da morte
tudo leva à tua saudade
tua amarga presença
na distância
em que te procuro esquecer
inutilmente"
Mauro Salles - "Recomeço"