sexta-feira, 27 de novembro de 2009

o primeiro adeus...

☼12-11-43
╬ 18-11-2009


Querida “Lazanice”,


Faltam-nos palavras para descrever a importância que a senhora teve em nossas vidas e para expressar o amor que eternamente nutriremos por ti. A senhora, que sempre foi uma esposa dedicada e companheira, mãe e avó amorosa e protetora, soube com maestria como nos proporcionar toda a sabedoria e conhecimentos necessários à nossa formação enquanto seres humanos. Agradecemos toda o esforço imensurável que teve para transformar nossa casa em um verdadeiro lar, e para dar um direcionamento à vida de cada um dos membros de nossa família. Reconhecemos e saudamos toda a sua força e a luta que teve, especialmente nesse último ano, quando o destino nos pregou uma peça. Desejamos que a senhora descanse em paz e com a certeza de que faremos mais que o possível para realizar o seu maior desejo, ficarmos todos juntos.
Hoje nossos corações choram, mas não de tristeza, de saudade.

Beijos e abraços carinhosos.
De sua mãe, esposo, seus filhos, irmãs, netos e amigos.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

minta

Sempre que adentro àquele labirinto de paredes brancas nunca sei exatamente o que vou encontrar. Se lágrimas ou sorrisos, não sei, só sei que odeio aquele cheiro de flores.
Dizem que é lá que as pessoas vão para salvar suas vidas, mas é sempre por lá que elas acabam por perdê-las. A morte é a única coisa justa nesse mundo, ela trata a tudo e a todos igualmente.

Então é assim. Você me prometeu que iria viver até me ver com o diploma na mão, que ia tomar em seus braços as minhas crianças. Não nos deixe agora!
Pois bem, minta. Eu só não aguento mais te ver sofrer assim...

Soldado.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Hell(p)

Se eu acreditasse em Deus,
Se eu acreditasse em pecado,
Iria diretamente para o inferno...

Se eu acreditasse em inferno!!!

Soldado.

sábado, 26 de setembro de 2009

Minima Moralia - Dinheiro

"Ora pois meu senhor,
Se eu trabalho tanto para ter a ti
porque será que é você, quem tem a mim??? "

Soldado.

Ao saudoso poeta das rua, Jesiel, que me proporcionou os ingredientes para essa reflexão.

domingo, 13 de setembro de 2009

Caligrafia...

"– Acalma-se. Dizia o anjo velho.
– Durma para que amanhã você tenha forças para começar a construir os alicerces desse arranha-céu.
– Pois eu lhe digo que permaneça a fantasiar. Berrou o anjo novo.
– A realidade é dura demais. E não há nada para ser transformado a não ser o seu próprio eu.

Fora sempre assim, desde a infância. O belo e novo sempre se apresentavam de forma imperativa. Ao menos era bom que aqueles anjos estivessem ali, distraiam seus pensamentos. Sua cabeça parecia um caldeirão fervente de pulsões. Naquele mesmo lugar onde ele guardava os segredos mais excusos, onde cultivava o seu próprio jardim das delícias, era ali também que criava seu mundo, cheio de poesia e amor.

E o anjo novo, que podia ler seus pensamentos, disse:
- O amor está morto, assim como Deus. Esse mundo já não os comporta mais.

Ele só queria dormir para se ausentar do conflito, ao mesmo tempo que queria manter a tensão e suportá-la.

E o anjo novo, com sua face visivelmente cansada, porém com olhar sempre solicito:
- A gente sente, a gente se enxerga, só é difícil mudar.
O anjo velho e suas metáforas. Era muito difícil compreender o que ele realmente queria dizer. Os pensamentos começavam a ceder ao sono.
- Esse seu Deus há de me proteger. O jovem virou pro lado e dormiu."

Soldado, sem destino.

domingo, 9 de agosto de 2009

impertinências...

- É muito azar que no rebento eu tenha sido amaldiçoada ou que mesmo por simples acaso me foi predito vir ao mundo sendo indigna de amor. Assim sempre foi com meus pais, com meus irmãos, com outros que por meus lençóis passaram, e agora com você...
- Se és indigna de amor não sei, mas que tu és uma malabarista na arte de inverter o discurso, disso não há dúvida. Sabes muito bem que não é o caso, muito pelo contrário. Tanto te amei e ainda amo, que tenho em minha memória com todos os contornos e nitidez as lembranças de cada momento que vivemos juntos e basta você me olhar fundo nos olhos para poder resgatar isso.
- Por favor, não me faça chorar com suas palavras doces. Não me usurpe as lágrimas com um alfinete de algodão. Me diga a verdade, me conte das mulheres que sussurraram gemidos ao seu ouvido nesses últimos tempos.
- Te direi a verdade então. Mas não a verdade que seus ouvidos querem escutar. Mais cruel que a infidelidade talvez seja tomar consciência da incapacidade de suprir as demandas do outro, ou pior, de se apropria da própria incompletude. Mas a vida é assim, tem uma vida própria. Do mesmo jeito que um dia ela te colocou sentada ao meu lado, hoje faz-se necessário a separação.
- Seu desprezo me devora o coração como uma metástase. Mas eu não hei de chorar. As lágrimas já secaram. Você sempre se sentiu preso, mas em alguns anos vai descobrir que de nada adianta sair do encarceramento se tuas mãos continuam algemadas entre si.
- Quem provou do cárcere e vê novamente luz do sol, não quer voltar pra prisão nunca mais...

Soldado.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

quem ousa dizer...

"Quebrem as máquinas
Ateiem fogo nas lavouras
Ocupem as praças
Empenhem as armas.

Não aceiteis a resignação
Levantem as vozes
Hasteiem as bandeiras
Cuspam na cara do patrão.

Chamem os estudantes
Tomem os sindicatos
Quem ousa dizer camarada
Que não é possível construir a revolução.

Erguei as foices
Segurem com firmeza o martelo
Derrubem o governo
Trabalhadores do mundo uni-vos."

Arriscando pelo fascinante e sedutor mundo da poesia.
"O soldado errante."

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Com olhar profundo ela te hipnotiza. E o perfume é pra te envenenar. O calor do teu corpo te deixa estático. Com uma das mãos ela te toca suavemente o pescoço e com a outra te impetra vorazmente uma agulha no peito. O coração sangra, mas as lágrimas já secaram. Ao som de uma harpa perfeitamente harmônica, bem ao longe, você vê cada gota do seu sangue tocar o chão, manchar a roupa, os sapatos e o canto da boca. E junto com ele, os sonhos, os planos, as promessas, tudo escorrendo em um ritmo de um ponteiro que marca as horas.
E a morte insiste em não chegar, como se te provasse até mesmo ser indigno para adentrar ao inferno. E ela alí, te olhando hedonisticamente, degustando cada momento daquele ritual tribalista. Mas uma lágrima desprevinida escorre, e ela se descubre agindo por vias de não ter outra saída, pois o amor era um caminho sem volta...

Para sempre, o Soldado Errante.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

as últimas palavras (fragmentos de uma carta de amor - parte II)

O coração falha, mas o instinto não. O coração me pedia para ficar, para insistir, mas o instinto me alertava que era cilada. Mas como diz o dito popular, "dos males o menor". Ao menos o corte foi apenas na superficial e em alguns dias tudo estará cicatrizado. Mas sempre que eu me olhar no espelho, ele estará lá, suave.
Agora vivencio os sentimentos mais contraditórios. Se desejo que siga seu caminho, que procure sua felicidade onde você acha que ela se encontra, desejo tão intensamente também que você reconheça que está cometendo um grande erro e que nos dê uma outra chance. Mas é bem verdade que para pessoas que vivem a vida tão intensamente como eu, não existem segundas chance. E além do mais, eu não saberia conviver com seus fantasmas. Eu preciso de alguém que possa me retribuir na mesma proporção tudo que eu tenho para oferecer.
Bom, agora não sei bem o que fazer com a minha ansiedade, com a minha vontade de estar contigo. Não sei o que dizer aos meus amigos, que compartilhavam comigo a felicidade de "eu ter encontrada a pessoa certa". E o que dizer para ele (o promotor), que continuará pensando que eu sou o culpado, que não sei me relacionar.
A menina, a musicista, de pés pequenos e coração grande. A mulher carinhosa e um pouco medrosa ficou para trás, acorrentada em suas lembranças, em seu passado. É uma pena que eu não vou poder estar ao seu lado na sua travessia. E eu, talvez não seja a pessoa certa, mas eu tenho quase certaza de que "você está fazendo a coisa errada, na hora certa." Eu não gosto de lutar, não sozinho. Continuarei minha busca cega por um verdadeiro amor. Hei de encontrá-lo.
Te desejo sorte. Espero que você se encontre por aí. Eu te encontrei, bem perdida em meio aos seus próprios desencantos. Não fui forte o suficiente para te resgatar, e nem poderia fazê-lo se quem você quizesse.
Me desculpe o drama, faz parte do meu show.


O soldado errante

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Fragmentos de uma carta de amor...

"E o que é o amor senão um sofrimento em potencial. E tão cedo se faz para falar nesses termos, mas não tenho dúvida que destes fragmentos que estamos juntando se constituirá algo sólido e bonito, que outrora poderemos chamar de amor. Pois bem, se o medo assombra a ti, que seja pela intensidade e pelas proporções que esse sentimento tem tomado, ou que seja mesmo pelas lembranças, que vira e mexa lhe roubam o sono, posso dizer também que tenho medo. É diferente é claro e eu tenho a obrigação de ser honesto com você e te dizer que o meu medo é de mais uma vez ser o algoz de uma alma pura que procura amor em um coração ressacado de tanto sangrar. Mas se de tudo não conseguirmos ser felizes para sempre como nos contos de fada, que sejamos felizes agora, enquanto a saudade acossa delicadamente e os corpos pedem pra morar um no outro. E se as incompatibilidades se mostrarem inconciliáveis ( ou o medo se mostrar mais forte), e por ventura tenhamos que nos separar, pode ter certeza que seremos capazes de suportar mais esse tombo, E quando a feridade fechar, que você possa olhar para aquela bela cicatriz e lembrar do meu sorriso maroto, dos meus pés quentinhos e do meu abraço sincero."

sábado, 21 de março de 2009

causa mortis

Todos os dias ele se posicionava naquele mesmo local. Sua cadeira de balanço já tinha as marcas do seu corpo mutilado e as cortinas, o cheiro impregnado do fumo barato. Por mais que tivesse medo de ser novamente recolhido à Casa Verde, ele insistia em senta-se ali todas as noites para observar os transeuntes. Sua diversão era imaginar o que se passava na cabeça desses ilustres desconhecidos da cidade. Suas paixões, seus medos, seus traumas e perversões. Eram todos seus amigos, seus cúmplices, a quem dignamente lhe confiavam os mais obscuros segredos.
Mas havia uma pessoa em especial por quem ele esperava por todo e sempre. Uma jovem moça, pele clara, cabelos cor de ferrugem, que passava por ali todos as noites, com passo apressado, corpo tenso, e um punhado de livros debaixo do braço. Talvez ela nunca tivesse notado o velho que a observava diariamente, enquanto esperava ansiosamente pela morte, nos confins daquele teatro inacabado abandonado pela prefeitura. Por mais que o homem desejasse intensamente o sepulcro, que aguardasse o dia em que aquela dor fosse enterrada profundamente junto com seu corpo, seu âmago protestava pelo corpo quente daquela jovem. O máximo que ele conseguia enxergar por baixo de todo aquele pano era seu pescoço, e sua imaginação fluía ardentemente ao pensar por quais motivos seus pêlos arrepiavam toda vez que passava naquela rua esquecida.
O dia em que os homens do governo o levaram no rabecão branco com o simples argumento de que “ele tem os pés no chão e a cabeça nas estrelas” e o deixaram amarrado e sedado por dias a fio, deixara profundas marcas em sua existência. Anos se passaram até que um belo dia ganhou alforria ao jurar eterna fidelidade a um tal senhor Jesus Cristo, humilde carpinteiro que residira naquela região há alguns milhares anos atrás. A partir daquele dia, um ritual igualmente importante ao do período noturno, era acordar bem cedo, antes mesmo do sol rajar as nuvens negras do céu, e se ajoelhar aos pés do seu senhor, o que lhe garantira suas liberdade. Por mais que o médico ainda o acusasse de comportar no corpo um algo estranho, era livre pela suas resignação. Tal qual o poeta que culpara o eu-lírico por todos os seus infortúnios, foi fácil ao seu ego, atribuir a uma porção de demônios encarnados, a culpa de viver constantemente no sutil limiar entre a loucura e o bom senso.
Nada mais se soube sobre esse homem, só mesmo que, alguns anos depois, de tanto pedir em oração ao seu Deus, encontrou a morte de forma doce e silenciosa. O seu filho, nascido do ventre da jovem moça de cabelo ferrugem, único herdeiro do gigantesco patrimônio deixado a esmo pelo velho, e ironicamente batizado de Jesus Cristo, mandara gravar na lápide do túmulo de seu falecido pai “Aqui jaz um homem da cidade. Causa mortis – solidão.”

terça-feira, 3 de março de 2009

Eu estou fazendo Arte e não Ciência. Para fazer Ciência basta uma boa capacidade de leitura e interpretação, e o mínimo de domínio da escrita. Para fazer arte não, tem que ter sensibilidade e uma boa dose de lirismo correndo nas veias. A Ciência é do domínio do conhecer, do fazer. A arte é da natureza do sentir, do ser.
A ciência surge de fora pra dentro, do caos que se instala em busca de uma possibilidade harmonização. Na mão dos cientistas, que não usam branco, mas dirigem carros com câmbio automático, dissemina-se o famigerado conhecimento, que quando muito ousado, consegue ultrapassar os muros da academia. A Ciência é daqueles que sustentam o capital, a exclusão e a guerra.
E do sangue dos mortos do holocausto se pinta a arte. Se não nas mãos do pintor, na ponta do lápis do poeta, se expressam os desajustados sentimentos. Da sublimação do desconcerto, do extravasar subjetivo ou simplesmente na visão sutil da beleza que reside na miséria, nasce o desconhecido, o inominável. A arte que faz o peito doer de fala de ar, arte da burguesia. Arte bruta, dos loucos.
Usurpando e adaptando as palavras de Jabor. Ciência é prosa (conversa fiada, no sentido mais chulo da palavra). Arte é poesia. E arte da ousadia é fazer arte consciência.