terça-feira, 17 de agosto de 2010

o sol da beleza que cala...

Apesar da tristeza que tem permeado meus dias, eu continuo a achar tudo muito bonito. Hoje mesmo, descendo a rua, me deparei com o mais belo por-do-sol que sou capaz de recordar. Os raios solares fumegantes se fundiam com a poluição da cidade que fica suspensa no inverno. Esse quadro, inumeras vezes já pintando, se completava com os galhos das árvores do cerrado, que ali do meu ângulo de visão constituiam pontos de fissura entre o dia que se encerrava e o crepúsculo que se anunciava.
E eu quase me emocionei. Acho que não chorei porque o clima árido do deserto goianiense levou embora também as minhas lágrimas.
Disseram-me hoje "você é demasiadamente sensível". É, eu realmente ainda conservo essa coisa de me emocionar, de sentir. Por isso eu ainda vejo a beleza no mundo, sobretudo na tristeza. A tristeza é bela, tal qual o sangue escorrendo, a barbárie, a separação, a morte. Não é a beleza que vejo nas páginas de Kundera ou no piano de Tiersen, é uma outra beleza que você só consegue enxergar quando está triste.
Mais é dessa beleza que me esquivo, o tempo todo. E porque deveria, se agora quando escrevo percebo que é ela que me faz sentir mais humano.
Sentir, sentir, sentir. Fingir, sorrir. E nesses dias eu prefiro ficar só. Evitar o choque com o mundo do outro, porque esse que já carrego me parece pesado demais. E nem ter que fingir e sorrir. Já me parece demais...