terça-feira, 17 de junho de 2008

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Até qualquer dia, há um ano atrás, ou há uma hora atrás, eu ainda acreditava que viera a esse mundo para amar. Mas assim, como qualquer lar de família, tão instável quanto ácido, tudo se desfez. Agora busco o sentido na falta de sentido, busco encontrar qual é o caminho que se deve seguir um homem que não acredita mais no amor e nem em Deus.

Os astros de rock e nem os ícones da MPB já não falam mais a minha língua, as drogas e o álcool já não propiciam uma fuga tão distante quanto eu preciso. Nem o sexo, chocolate ou sorvete são tão gostosos como antes. A diazepina já não torna meu travesseiro mais tão macio. Enfim, é esse o destino de um homem? Viver uma eterna vida sem graça e sem tesão. Fazer um sexo caseiro, usar drogas cada vez mais fortes, deixar de procurar um amor e procurar uma boa mãe para os filhos? Sinceramente não sei, mas sei que esse não é o caminho que pretendo seguir.

Um dia meu pai me disse que eu era um homem livre, mas isso é tão real quanto as leis da atração e “o segredo”. Se realmente sou livre, porque nunca acordo com a pessoa que eu quero ao meu lado, porque sou obrigado a ficar sentado por horas e horas em cadeira dura e desconfortável para ouvir pessoas falando sobre coisas que eu mal entendo? Porque não posso plantar, colher, e ver meus filhos correndo nus pelos campos, ensina-los a ler e escrever em casa, ensina-los os segredos da terra que eu mal conheço, e que a paz é muito mais que uma pomba branca. Enfim, começo a achar que a famosa liberdade é um grande saco de papai-noel cheio de interrogações.

Bem, a verdade é que eu ainda continuo procurando um grande amor, alguém que me prove que existe paz de espírito nesse mundo, alguém que suprima todas minhas necessidades, que muito mais que instintos (Freud que me perdoe) são necessidades de afeto e carinho, um afeto que sempre me foi negligenciado. E que mesmo sendo muitas vezes tratado como um doente, eu sou o mesmo, a mesma criança que quando pequena, gostava de repousar sobre o colo da avó.

É preciso que as pessoas entendem que a verdadeira anomia, a verdadeira patologia, não está no homem, não está na minha pessoa, está na minha teia social: seja a família, a escola, ou a sociedade como um todo. Eu não quero ser reducionista, não quero dar cheque sem fundo dizendo que a culpa é dos outros. Mas também eu não posso ignorar que desde o nascimento nós somos intensamente castrados, intensamente recalcados. Já não basta o próprio sofrimento intrínseco à existência humana, o cara ainda é muitas vezes obrigado a sofrer por ser preto, pobre e viado. É isso mesmo, tem que ser explicitado de forma crua, assim como se é falado nas costas ou pelos corredores. Tem que tocar na ferida até sangrar, porque somente quando sangrar, os outros vão sentir a dor que aqueles que tem o mínimo de senso crítico, o mínimo de sentimento de pertença a uma comunidade, sentem.

Enfim, eu tento ser o máximo existencialista possível, tento expor meus sentimentos, me abrir comigo mesmo, com a terapeuta, com amigos ou irmãos, mas no final das contas sempre sobra um restinho lá no fundo. Sabe, aquele restinho do pote que nos faz perder o sono às vezes, que encharca nosso travesseiro de lágrimas, que nos faz perder a consciência. E no final das contas, tudo vira política né. Enfim, é difícil dormir em um mundo desajustado, com uma cabeça desajustada. Será que eu sou mesmo doente assim?

6 comentários:

Anônimo disse...

"Mas também eu não posso ignorar que desde o nascimento nós somos intensamente castrados, intensamente recalcados!"

Gostei do que escreveu, vc escreve bem!!É legal ter um blog, vc vai ver...desabafa que eu te acompanho!!

Abraços...
Polly Di!

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Sempre gostei dos seus textos. É, esse se parece muito com uma pessoa que conheci, complicado!
Mas espero que encontre seu caminho, varios e que seja o que realmente quer.
Beijos doce ;*

Ylang disse...

Ai que crise...
rsrs adoro esse homem.

acho que errado está é o mundo, e não as pessoas que sofrem a pressao das relações de poder... que sofrem a coerção ao ajustamento a todo momento!

bjs camila

Silvana Dias disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Silvana Dias disse...

Eis me aqui relendo seu texto, pensando nos caminhos, pensando na minha vida, pensando no amor e apenas chegando a uma conclusão boba e impossível:
sinto sua falta.