sexta-feira, 7 de maio de 2010

Um texto bem antigo, de 2005, sem edições. Achei em meio a alguns arquivos perdidos e tive que resistir à tentação de mexer nele. É estranho olhar no espelho alguns anos depois.

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Acordou ressaqueado, algo muito comum nos últimos meses. Mas dessa vez o gosto do alcoól e da nicotina na boca, resquícios da noite anterior, até pareciam mais doces. Gosto de quem bebera, não para escapar de uma realidade nua como antes fizera inúmeras vezes, e sim para compartilhar da festa.
Banho ele não queria tomar, mas se fazia necessário. Não queria perder o cheiro de perfume que se empregnara na sua pele. Mas a sua higiene superava o seu romantismo e assim banhou-se. A água a lhe envolver o corpo e a levar um pouco daquele cansaço gostoso de quem dançara e cantara intensamente há poucas horas atrás. E junto com o cansaço foi-se o perfume. Se não podia senti-lo mais, ao menos podia se lembrar. Assim como cada detalhe e sensação que ele experimentara na noite anterior.
Suave perfume de menina no corpo pálido de uma criança crescida. Talvez tenha sido isso que o encantara. Seu jeito maroto de ser. Sua despreocupação de quem não passa o dia inteiro fazendo contas, e sim a sonhar com lápis e papel na mão. Seu humor sarcástico, quase negro. Sua ausência de falsos pudores. Ela é aquela que passa horas em frente a Tv vendo desenhos animados, que adora revistas em quadrinhos, que não come carne porque tem dó dos bichinhos.
E ele o que é?
Uma interrogação constante. Uma borboleta, que se transforma. Mas a sua vida anda bem. Prefere não saber o que fará no dia seguinte, ao invés de seguir uma rotina fatalmente contagiosa e entorpecente. Surpresas às vezes são bem vindas para ele. Até mesmo o furo de um pneu de carro pode tornar-se estranhamente divertido.
E como era bom sentir denovo uma leva agonia ao tocar do telefone. Mas como hoje o telefone não tocara, aqui estava ele a divagar em frente à tela do computador. A sexta feira já se fora, hoje já é sábado. Será que fará sol hoje?"

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